Acima de tudo, Jovem!
Como qualquer outra, a nossa sociedade constrói-se a cada momento a partir, e à volta, de certos valores, que têm um carácter de evidência tal que não parecem poder, nem mesmo dever, ser postos em causa. Insensivelmente, e no espaço de uma geração, da década de 1970 aos nossos dias, a juventude transformou-se no valor central à volta do qual a nossa sociedade de consumo se constrói e desenvolve.
Esta necessidade de promover a juventude manifesta-se não apenas no discurso político mas também na vontade de satisfazer novas expectativas. A esperança de vida não cessa de aumentar nos países mais ricos, a necessidade de filiação faz com que a procriação seja cada vez mais artificial e a morte tende a desaparecer da nossa paisagem mental. De curativa, a medicina acabou por se transformar em preventiva, adaptou-se a todas estas novas solicitações.
E, sobretudo, mudou profundamente a nossa relação com o tempo e com a sua duração. Temos, agora, tendência a fundirmo-nos intimamente ao instante, ao presente imediato. Isso permite libertarmo-nos dos danos da idade. Reencontramos, frequentemente, esta cultura do imediatismo nos períodos de guerra onde a incerteza do amanhã dá um novo sabor ao quotidiano. É, aliás, possível que estejamos em guerra contra os nossos medos.
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Jacques-Antoine Malarewicz
O Complexo do Principezinho
Lisboa, Estrela Polar, 2007
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